sexta-feira, abril 13, 2007

Guta Moura Guedes


"Resultados só serão visíveis em 2008"

O rótulo – “Senhora Design” –, atribuído, uma vez, pela revista Máxima, é sustentado pelo currículo onde o termo se repete incessantemente. Criou, em 1998, a Experimenta Design e a Bienal que colocou no circuito internacional a arte portuguesa contemporânea; coordenou, em 2001, o projecto “Voyager”, levando artistas às principais cidades europeias do design; este ano, integra o comité internacional que fará de Turim, Capital Mundial do Design em 2008. Guta Moura Guedes é a senhora do design e acredita que a disciplina “é muito mais profunda do que a sua dimensão estética ou superficial”. É o que está agora a provar na Casa da Música, no Porto.
A precisão do percurso pode suscitar equívocos: que função cumpre numa Casa, que é da Música, a “senhora Design”? Design, justamente, responde, sem embaraço, Guta Moura Guedes, assessora para a comunicação, marketing, design e desenvolvimento, desde Setembro, no equipamento portuense, que este fim-de-semana celebra o 2º aniversário. Importou de Nova Iorque o designer Stefan_Sagmeister para fazer um “lifting” à imagem da Casa da Música, criou um ciclo mensal de instalações e coordenou o primeiro livro da instituição, que sairá em Julho.
Correndo o risco de ser acusada de estar, apenas, a defender a sua dama – o design – e com o contrato a expirar daqui a cinco meses, Guta não desacelera: quer lançar um desafio a criadores emergentes para desenharem o merchandising; outro para preencher de som os corredores mudos. Mas reconhece que a comunicação ainda não é completamente eficiente. Em 2008, promete, será diferente. Continuará ligada ao projecto? “Não sei como vai ser o futuro”.

[Entrevista de Helena Teixeira da Silva publicada no Jornal de Notícias a 13 de abril de 2007]

Quando chegou à Casa da Música (CM) teve logo a percepção de que ela poderia ser, também, habitada por outras disciplinas, como as artes plásticas?
Imediatamente! O desejo de que a Casa deveria ser um repositório de outros criadores, estava implícito no convite que me foi feito. No fundo, é a minha ligação às artes plásticas, arquitectura e design que justifica a minha presença.

A exploração dessa ligação é o lado mais visível da sua colaboração na CM. Mas as suas funções remetem, também, para a comunicação, marketing e desenvolvimento. Não receia que pareça estar interessada, apenas, em defender a sua dama – o design?
Não, não, não! Não tenho medo nenhum que digam que estou a defender a minha dama – efectivamente, estou. Tenho um inegável percurso ligado ao design. O meu interesse por ele – enquanto disciplina e não apenas focado nos objectos –, não é superficial; é profundo. O design é a disciplina operativa do século XXI. Constato é que consigo aplicar a minha perspectiva do design em qualquer projecto. Tenho trabalho interessante, visível, com frutos e isso é bom. Na CM, apliquei essa matriz processual depois de ter percebido os objectivos da sua aplicação, o que era esperado de mim e de que forma podia potenciar as valências de uma disciplina que é, realmente, a me interessa mais.

E criou um ciclo de onze instalações a apresentar, mensalmente, até ao fim do ano. Que critério esteve subjacente à escolha dos artistas?
Primeiro, o ritmo, que é determinado pelos concertos da ONP à sexta. Propus que definíssemos a Arquitectura e o Design como áreas de eleição para 2007. Queria trabalhar com uma geração de artistas à volta dos 40 anos._Criadores com trabalho visível, profundo, consistente, mas não consagrados. E com disponibilidade para permitir este jogo. Dado o pouco tempo para lançar o desafio – lancei-o em Outubro – não poderíamos pedir que trabalhassem sobre as obras tocadas. No futuro, será importante; agora, era impossível. As instalações estão focadas no objecto arquitectónico, no espaço da Casa, na interacção com o público.

Mas não existe programa definido em torno das obras...Não. O interesse reside nas várias leituras possíveis: através das visitas guiadas – ou não, porque a CM está sempre aberta; ou nas inaugurações, onde estão presentes o criador e o crítico que assina o texto._O Nuno Grande, por exemplo, quis fazer uma série de debates, integrados na sua intervenção. Se outros o quiserem fazer, estamos disponíveis.

É um projecto pontual?
Gostaria que tivesse continuidade. Mas estes programas demoram tempo a produzir efeitos: criar públicos, aproximar as pessoas do acto criativo. Diria que este trabalho de cruzamento deveria ter, pelo menos, cinco anos de existência. E seria interessante haver avaliação – quantitativa e qualitativa –, dos resultados, no fim do ano, para que a próxima edição possa ser ainda melhor.

Está aí implícita uma vontade de continuar ligada à CM?[risos] O meu contrato acaba em Setembro. Para já, tenho um compromisso com a administração da CM, com prioridades identificadas, que quero cumprir no espaço de um ano. Mas é óbvio que a minha ligação ao projecto muito forte. É extraordinário: pela matéria, que é a música; pelo objecto arquitectónico; pelo facto de estar no Porto, cidade que sinto estar a reinventar-se; e pelo triângulo com Serralves e o Teatro Nacional São João. E há a consciência do investimento, que é brutal. Dá-me imenso prazer fazer parte desta equipa, mas não sei como vai ser o futuro.

Desafiou Stefan Sagmeister a renovar a imagem da CM. A que se deve a escolha?Porque é extraordinário, inteligente, criativo, profundo. Foi desafiado a pensar tão longe e de forma tão aberta e criativa como Rem Koolhaas pensou o edifício. E conseguiu. De todos os designers que equacionámos, tinha vantagens fundamentais: trabalha em Nova Iorque só com duas pessoas, o que significa que escolhe, criteriosamente, os projectos que quer trabalhar. E que nós, clientes, tenhamos a certeza de que é mesmo ele que trabalha connosco. Tem um percurso ligado à música, logo, a nossa matéria é-lhe muito familiar. Finalmente, tem uma abordagem muito vincada. Tal como Koolhaas, imprime a sua personalidade nos projectos. Conheço-o há quatro anos e não sabia se aceitaria o convite. Mas sabia que se visse o projecto iria encantar-se. Foi o que aconteceu.

Apesar da aposta na imagem, a CM parece ter ainda um défice de visibilidade. Concorda?Há muito trabalho de backoffice, que temos estado a fazer e que é inimaginável. E exigentíssimo. A necessária coordenação entre os departamentos de programação, comunicação e financeiro só vai começar a ser vista em 2008.

Não sobra espaço para explorar a programação do ponto de vista da comunicação?
O Pedro é efectiva e, inquestionavelmente, o director artístico. Admiro e reconheço a 100% o seu conceito de programação. Na minha área, a da curadoria, tenho maior liberdade no programa da ONP à sexta, na reflexão que faço sobre a programação. Depois, actuo em questões estruturais ligadas à abertura da CM, o futuro da loja, o livro a editar brevemente, a sinergia entre os espaços da restauração e os outros.

Divulgar a programação extravasa as suas competências?
Não. Mas este ano, dado o contexto – eu e o Paulo Rodrigues, do Serviço Educativo, entrámos quando o_Pedro já tinha a programação fechada – e as questões estruturais para resolver, decidimos fazer uma comunicação a outro ritmo. Tendo a CM o desejo de entrar no circuito internacional, essa comunicação deve ser feita, mas tem que ser pensada.

Daí o desinvestimento em Espanha, país-tema da programação deste ano?
É verdade que não há muita comunicação a esse nível. Concentrámos a divulgação em Madrid e vamos trabalhar na Galiza antes do Verão. Tem a ver com a contingência de termos chegado tarde. No futuro será diferente. Já estamos a trabalhar os próximos países-tema.

O primeiro livro editado pela CM será uma reflexão sobre o conteúdo ou sobre o objecto?
Não pretende ser uma reflexão sobre a missão da CM ou uma recensão crítica sobre o projecto. É um registo do que é a estrutura enquanto objecto. O livro, bilingue, vai ser lançado a 1 de Julho, para coincidir com a cerimónia, que vai ser aqui, da presidência de Portugal na União Europeia. É desenhado por Stefan Sagmeister e tem uma entrevista a Mark Wigley , reitor da Columbia University, em Nova Iorque, crítico, curador, das personagens mais conceituadas da crítica da arquitectura. Conhece bem o trabalho do Koolhaas.

Já há conceito e data e para a abertura da loja?
É o que falta acabar da Casa e já há muitas ideias na mesa. Estamos a discutir o que lhe dará corpo e alma. Abrirá no Natal.

Cumprindo, nesse caso, outra lacuna da CM, que é o merchandising...
Em todo o lado, o merchandising é tudo menos extraordinário. Gostaria que servisse para potenciarmos criadores portugueses emergentes, levá-los a reflectir sobre a música, a memória, o que fica, como fica. Não conheço nenhuma instituição que alguma vez o tenha feito.

Sendo da música, a CM está sempre silenciosa. É um princípio a manter?
Gostava de lançar o desafio: de que forma a música pode estar presente na CM sem ser através dos concertos. Isso está a ser pensado. A Casa é um diamante em bruto.

"Trabalhos da Experimenta congelados até 2008"

Experimenta Design, Bienal de Lisboa, entraria, em Setembro, na quinta edição se a Câmara de Lisboa não tivesse subtraído, à última hora, o apoio prometido. “Em Portugal, o sistema de apoio às artes é quase inexistente. Quando existe, é encarado de forma pejorativa, como se fosse um subsídio e não um investimento”, lamenta Guta Moura Guedes, autora da iniciativa que impôs a criação contemporânea portuguesa nos circuitos europeus da arte contemporânea, contribuindo para a sua projecção e internacionalização. O dissabor da interrupção é atenuado pela solidariedade internacional – “A reacção foi impressionante. A Bienal de Lisboa era a primeira de um circuito de cidades que cumprem o evento no mundo” –, mas a incerteza do futuro não conhece atenuantes. “Está tudo em aberto: pode desaparecer ou acontecer fora do país”. Poderá realizar-se em Portugal, mas fora de Lisboa? “Não faz muito sentido. Não quer dizer que não pudesse acontecer no Porto ou no Funchal, mas a verdade é que foi pensada para Lisboa”. Para já, a única garantia é o compromisso assumido pelos artistas convocados para a edição “It’s about time”. “O trabalho e a investigação feita serão transportados para 2008. Mais do que isso é impossível, porque não podemos jogar com temas que já não façam sentido internacionalmente”.

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Pedro Burmester



(Foto: Pedro Correia)


"Não seguimos o que está no mercado"

A Casa da Música (CM) é acusada por alguns produtores privados de não conseguir trabalhar em rede, privilegiando concertos exclusivos. A exclusividade é um critério?
É uma crítica infundada e injusta. Há espaço para alugar salas a produtores – já o temos feito. No primeiro trimestre, houve três ou quatro propostas de produtores externos à CM. Portanto, há disponibilidade para acolher eventos que não fazem parte da programação definida. Se depois os preços praticados não são aqueles que os produtores acham que deveriam ser, já é outra questão. A CM tem uma estratégia de programação própria, que cobre várias áreas musicais; algumas são assumidas por produtores privados. Aí, o nosso desejo é que as propostas tenham um carácter exclusivo ou que, pelo menos, não se repitam em muitas cidades.

Os produtores dizem-se obrigados a cumprir, apenas, o eixo Lisboa-Braga ou Lisboa-Guimarães, não conseguindo fazer escala no Porto, uma vez que a única sala de média dimensão é a CM e essa, supostamente, não os acolhe...
Não é verdade, outra vez. Há muitos casos que o demonstram. A CM tem uma programação muito intensa. É difícil, do ponto de vista logístico, acolher espectáculos na lógica de aluguer de sala. Temos vontade de ter uma programação com assinatura própria, com DNA particular para cada espectáculo, portanto temos que filtrar aquilo que aparece na programação em termos de propostas externas. Acolhemos algumas porque encaixam nesta lógica; outras não. A Casa não seca a oferta porque nós, tendencialmente, programamos – e isto é uma diferença em relação a 2006 – eventos exclusivos. Não perseguimos eventos que estejam a circular no mercado. Se o fizéssemos, poderia aceitar que estaríamos a concorrer com produtores privados. Este ano, alterámos isso e estamos a programar, em todas as áreas, eventos exclusivos, não invalidando que, às vezes, façamos parcerias com outras salas. Tem acontecido com o Theatro Circo, o Centro Cultural de Belém, a Culturgest e outros, para reduzir custos, partilhando espectáculos. Mas é a excepção e não a regra.

Sendo a "Casa de todas as músicas" há, também, quem defenda que nem todas estão a ser contempladas….
Haverá sempre essa crítica. Fazemos uma programação muito variada e com vários géneros, mas haverá sempre pessoas que acham que o género da sua preferência é preterido. A matriz da CM é essa - ser de todas as músicas. Depois, caberá a cada director artístico estabelecer equilíbrios. Se calhar eu tenderei a seguir mais um caminho; o próximo tenderá a seguir outro.

Mas a CM está atenta aos fenómenos emergentes?
Obrigatoriamente, tem que estar. E o que há mais é isso. E também há muito disso que não é isso. Ou seja, num mundo onde, aparentemente, todos os dias aparecem coisas novas, quando as filtramos percebemos que nem são novas; diria que a maioria são revisitações ao que já se fez. A revisitação acrescenta sempre alguma coisa, é verdade. A Casa da Música tem que estar obrigatoriamente atenta, mas também tem a obrigação de filtrar. E ter critérios. E não pode ser isso a sua única característica, porque se não perdemos a ligação ao que está para trás. Acho que aí tem havido um equilíbrio inteligente. Porque novidades é o que não falta. E o mundo sabe disso, ou da ilusão da novidade.

Foi o ano em que a programação foi completamente sua. Esteve pela
Programação, equipa, casa, pessoas. É natural, a fase agora é outra. A minha primeira fase foi de conquista de projecto. E agora é do dia-a-dia, da realidade, do encontro diário. Quando um sonho se concretiza, às vezes é muito frustrante. Há algo de verdade nisso. Ou seja, a prossecução do sonho ou do projecto – e ele está pronto -, é para mim mais motivador do que se calhar depois a sua vida diária. Mas é a vida diária que o faz.

O caminho é mais motivador do que o fim?
É. Para mim, sem dúvida.

guta, ritmos, grelha fechada e Sentiu isso também? Que a divulgação da programação está a sofrer com essa diferença de ritmos?Senti que tivemos pouco tempo para ajustar esses lados todos. Foi, de facto, uma questão de tempo. Por isso, dou de barato, que isso seja a causa de a comunicação ainda não ser eficaz. Acho que há coisas que se estão a trabalhar e que as pessoas não sabem. Mas diria que isso ainda não é um problema grave. Mas vamos ter que ser capazes de o resolver. O cargo de direcção de marketing e comunicação está em aberto. Creio que só quando esse lugar for preenchido poderemos trabalhar essa área como dever ser.

Qual o país tema de 2008?
Já está proposto mas ainda não está decidido, portanto acho que ainda não devo revelar. Posso dizer que não é um país; são vários.

Dentro da Europa?
Sim.

Será sempre Europa?
Não.

Se é Europa e são vários países só podem ser os países de leste…
Não digo mais nada.

A programação está a ser apresentada por trimestre. Não faria mais sentido apresentar o conceito anual?
É um pau de dois bicos. Aí ainda não encontramos o equilíbrio certo. O que acontecia antes é que a programação era anunciada a seis meses ou um ano, mas só na área clássica. Porque a clássica permite que se faça isso. E depois as outras áreas eram anunciadas de acordo com o seu timming. Isso passava, a meu ver, uma imagem errada de uma casa que diz que trata as músicas todas por igual ou que as quer todas sob uma mesma perspectiva, respeitando as diferenças. Eu preferi apresentar três meses, mas apresentar tudo desses três meses. Isso permite passar uma imagem mais consentânea de toda a casa da música. Não é a ideal. A ideal seria mais a médio-longo prazo tudo. E acho que temos que trabalhar para conseguir ter isso. Avaliando uma coisa e outra prefiro ter três meses com tudo do que seis meses só com uma parte. Os conceitos eas linhas são traçados para o ano inteiro.

O que é que desta programação nos remete imediatamente para Espanha?Muitos artistas que vêm e que vieram, compositores residentes, muito repertório que a Orquestra vai fazer, alguns nomes da área do rock e da música popular espanhola. Mas vamos trabalhar melhor os países tema do ano que vem. Trabalhamos menos bem Espanha por falta de tempo. Acho que a presença de Espanha existe, mas a presença do país tema enquanto eixo tem que ser mais forte ao longo do ano para se poder apresentar como tal e fazer sentido. Portanto, este foi um primeiro arranque não inteiramente conseguido.

O Sónar vem para a casa da Música?
Não. O sonar propôs-nos vir, depois as datas não davam, depois esteve para ser partilhado com Serralves, e depois acabaram por desistir. Nós fizemos tudo para que viesse, mas acabou por não ser possível.

O S. João é para repetir este ano?É para repetir e é para prolongar-se por Junho, Julho e Agosto. A praça lá fora estará aberta a partir na noite de 23 de Julho. Em Julho faremos sete concertos diferentes, desde a orquestra, concertos de flamenco, jazz com orquestra, um festival que ainda não tem nome dedicado à música tradicional portuguesa, e um festival dedicado ao fado em Agosto. Portanto, vamos usar a praça para vários eventos.

Dia mundial da Música, em Outubro?
Não sei ainda.

2008, sendo que uma parte da programação, se não toda, já está fechada…… não, não… Quereria fechar a programação o mais tarde possível, conseguindo o maior tempo de avaliação do que fizemos em 2007. A avaliação é fácil de fazer e faz-se através dos números: são bons, tem havido mais gente a vir, mais bilhetes vendidos, maior taxa de ocupação, mais actividades educativas com maior taxa de ocupação também. Portanto, a questão dos números está a correr bem. Embora isso seja um avaliador perigoso quando se torna decisivo. E é um factor que temos que ponderar bem – nós casa da Música e muitas outras instituições culturais. Serralves, por exemplo, corre um bocadinho esse perigo. Cada exposição já quase tem a obrigação de bater o recorde de público da exposição anterior. A mim interessa-me a avaliação dos números, mas não é a única. Interessa-me saber se o que estamos a oferecer em termos de conteúdo faz sentido, tanto para quem o vem ver como do ponto de vista estritamente do meio e da música. Aí, eu tenho mais dúvidas do que certezas. Podemos afinar muita coisa: ser mais criteriosos na escolha do repertório, a palavra é clássica, mas vale para todas as áreas.

O princípio subjacente à escolha da programação, neste momento, qual é?
O equilíbrio das várias coisas. Quando se tem como objectivo cativar muitos públicos diferentes, a gestão é muito mais difícil. Se fosse só isto ou só aquilo era fácil. E esse equilíbrio tem que ser bem gerido. Se tivermos concertos com 10 ou 12 nomes consagrados sabemos que enchem, e que traz uma receita importante. Essa receita pode ser remetida para outras coisas que não enchem, mas que são importantes que a casa faça. Essa gestão, na própria lógica da programação, temos que estar consciente dela enquanto programador.

Faço a pergunta por uma razão: numa revista alguém escreveu que o Pedro conseguiu com mais orçamento fazer uma programação pior do que o Antony…
Anteriormente fez-se uma escolha mais segura em termos de programação, que é trazer orquestras conhecidas, solistas consagrados, ir buscar ao mercado aquilo que o mercado já testou e que funciona. Portanto, aceito essa crítica. A minha via é outra. Eu acho que devemos ir por um caminho não tão fácil. Se seguíssemos esse caminho quase nem seria necessário comunicação ou marketing, porque a programação promovia-se a si própria. Mas não é esse o caminho que eu defendo que a casa da música deva trilhar. Acho que deve ser, não invalidando que esse lado seja também programado ou que nomes de referência cá venham, não é essa a aposta fundamental. Li também que era bairrista, provinciana, Tomei como elogio. Vindo de uma mentalidade que acha que li

A casa está a ter, na cidade e no país, o impacto desejado?
Está. Podia ter mais? Podia. Vai ter mais? Vai. Tem dois anos de vida, é muito pequenina ainda. Tem muito para crescer. Mas tem impacto e isso é claramente visível. Hoje quem vem ao porto passa aqui. Para já, ainda é muito a força do edifício, mesmo em termos internacionais. Agora, o desafio é a conquista de que o resto possa sobrepor-se ao poder de sedução do edifício.

As instalações faziam parte da essência do projecto?
Fazia. Falo das que me dizem respeito. Na programação associamos ao clubbing e as actividades educativas instalações no edifico que permitam povoá-lo com objectos sonoros, ou com instalações que tenham a ver directamente com música, de maneira que as pessoas visitando o edifício também se confrontem com música de outra maneira que não através do formato de concerto. Foi sempre uma ideia subjacente ao projecto. O cruzamento com as outras artes eu acho saudável e um edifício como este está a pedir isso. Acrescenta algo de interessante, sim.

Nomes?
A Orquestra vai ter três concertos lá fora com repertório muito clássico: bolero de ravel, árias de ópera… eu achei que o ano passado a orquestra causou um impacto muito bom, as pessoas que viram apelar e chamar outros públicos à música que a orquestra faz. Vamos ter a Estrela Morente, ainda em Junho, Mário Laginha e Maria João com um projecto novo com um duo belga também com orquestra, vamos ter essa tal primeira edição de um fim-de-semana inteiro dedicado à música tradicional portuguesa, com grupos que olham para ela de maneiras diferentes e vamos ter em Agosto quatro nomes muito bons do fado. Acho que vamos testar Agosto. Eu gostaria de o testar com mais coisas. E acho que para a frente faz sentido que façamos mais coisas.

O SE está morno?
Não. Acho que perdeu visibilidade, mas está-se a trabalhar bem e mais. Há muito mais variedade de actividades, mais ofertas específicas para as escolas, diariamente temos muitas escolas e tem um menu diferenciado de propostas musicais, tem a ver com experiências musicais desde tocar com instrumentos a trabalhar com softwares e alguns até desenvolvidos por nós, e vamos desenvolver esse lado com parcerias com o INESC e com a Universidade católica e com a ESMAE para desenvolver software específico para trabalho de criação musical, apelativa para gente nova entrar, sabendo, ou não, música. Há mais trabalho, mais oferta, mas menos visibilidade. E é uma filosofia de certa maneira nova. Há um outro lado do SE, que se calhar é o fundamental, que eu diria que temos que nos concentrar mais nesses nos próximos anos, que o do verdadeiro serviço público. Que é ter como objectivo chegar às pessoas que por razões diversas não chegam à música e a casa da música.

O SE não tem saído propriamente à rua…
Não. Estamos arrumar a casa. Antes disso não podemos ir para a rua. 2007 e 2008 são anos de teste e afirmação do projecto. Em 2009 gostaria de lançar alguns projectos estruturantes para ficarem.

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